Uma aventura no Japão #5: o tofu e o sake que você nunca conheceu

06/23/2017

Na minha última coluna, eu trouxe a vocês algumas das atrações mais badaladas (e zicadas) da antiga capital japonesa.

Espero que com isso eu não tenha passado a impressão errada. Kyoto é uma cidade como poucas outras no mundo. Com um pouquinho de esforço – e uma mente aberta – é possível sair do óbvio (e da sobriedade) com muito gosto.

Fushimi é conhecido pelo seu santuário, a atração mais batida – e absurdamente lotada – de todo o Japão. Porém, se você estiver disposto a olhar fora da caixa, verá que o distrito oferece uma senhora imersão em cultura japonesa.

O melhor jeito de começar a aventura é com um passeio de barco. Os jikkokubune são antigos transportes de sake que hoje transportam passageiros, navegando por vielas que parecem a Little Venice em Londres, ou os canais de Amsterdã.

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Digo aventura sem aspas: o passeio é completamente em japonês. Não espere encontrar muitos gaijin, mas também não se assuste. Um onegai shimasu ali e um arigatou gozaimasu acolá dão conta de muita coisa. E você não precisará de um guia para curtir o melhor que a viagem tem a oferecer.

Fushimi é famoso por ser o lugar onde Ryoma Sakamoto, um dos heróis da modernização japonesa, foi assassinado por capangas do shogun. Margeando seus canais, é possível ver uma estátua do ativista, assim como o ryokan Teradata, onde ele foi assassinado.

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Como os jikkokubune já sugerem, no entanto, a estrela do distrito é o sake. Fushimi é o lar de vários produtores do icônico vinho de arroz, incluindo a Gekkeikan, que hospeda um belo museu.

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Barris de sake no museu da Gekkeikan

Eu e a Vivian somos formados como sommeliers, então sempre fazemos questão de visitar fábricas de bebida mundo afora. Como é de praxe em outros museus, o da Gekkeikan oferece uma degustação de alguns sakes da marca ao fim da visita.

Sake não é uma bebida muito badalada no Brasil. Em parte, porque as marcas mais populares no comércio são bastante ruins. Em parte, também, porque entendê-la é uma tarefa incrivelmente complexa.

Mesmo para mim, acostumado a decorar terroirs da França, o líquido é um grande mistério. Não ajuda o fato dos rótulos serem escritos apenas em kanji – em muitos casos, a mão.

Como leigo, no entanto, posso dizer que gostei do que bebi. O Ginjoshu é um sake mais adocicado, enquanto que o Tama no Izumi Daiginjo é bem seco. O museu também serve “vinho” de ameixa, um fermentado japonês estupidamente doce que parece uma ume (ameixa de onigiri) reimaginada como bebida de festa junina.

sake museum tasting

Bebidas oferecidas na degustação. Fonte

Se você não bebe, outra boa maneira de sair do óbvio é procurar restaurantes especiais, fora do eixo turístico. E não falo do mercado de peixes, nem de franquias gigantes como o Sushi Zanmai.

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É o caso do Tousuiro, especializado no ingrediente mais subestimado da culinária japonesa: o tofu.

Não, não faça careta. Se você pensa no tofu como apenas aquele “queijo” gelatinoso feito de soja, é porque nunca o experimentou em seu país de origem.

O Tousuiro oferece vários menus degustação com séries de pratos cuja estrela é o dito cujo. São tofus preparados de todas as formas imagináveis: cru, cozido no vapor, em blocos rígidos, em pastas, fritos como polenta, grelhados e com todo o tipo de acompanhamento.

Se te parecer exótico demais, uma alternativa bem romântica (fica a dica, namorados) é a famosa culinária kaiseki.

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Kaiseki, originalmente, era uma pequena refeição preparada por monges budistas. Hoje em dia, virou o nome de menus-degustação que servem vários pequeninos pratos (em alguns casos, mais de quinze).

Esses restaurantes podem ser encontrados por todo o Japão, mas em Kyoto parecem brotar em toda parte. Reserve uma noite em um desses lugares e você terá uma noite na cidade para nunca mais esquecer: longe das hordas de turistas, servido por garçonetes de kimono e comendo uma das melhores comidas do Japão.

karyo kaiseki 2

karyo kaiseki

Só não se esqueça de reservar – o que, já aviso, não é tão fácil quanto parece. Restaurantes japoneses não costumam fazer reservas pela internet. Os mais tradicionais nem possuem site.

Para garantir um lugar, é preciso ligar – de um endereço japonês, ainda por cima! Isso significa que, muito embora alguns dos endereços sejam bastante procurados, não é sempre possível reservar com antecedência.

Mas não se preocupe: basta pedir para a recepcionista de seu hotel para que faça a reserva para vocês. Não tenha vergonha, elas estão acostumadas.

Os restaurantes kaiseki podem ser bastante salgados (com o perdão do trocadilho). Entretanto, lembre-se que o Japão possui uma excelente comida de rua. Pagando de 500¥ a 1000¥ por uma refeição ao longo da semana, é fácil economizar para um jantar super especial.

Acredite em mim, vale a pena. Aquele sashimi de baigai não reaparecerá na sua frente tão cedo.

Uma Aventura no Japão continua segunda feira. Fique de olho!

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